Lamuriosamente

Melyssa K.
2 min readMar 13, 2021

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Lembra-te de mim quando cansares e a estirada for longa

Sou Verbo
E Holocausto teu

Lembra-te de mim na agenda cheia e nos dias cinzas de tédio
Quanto tuas cores não mais cintilarem
E teus olhos não mais forem atacamitas faiscantes

Lembra-te de mim quando for tarde e nenhuma dúvida te consumir
Quando o menor sussurro de novas experiências te parecerem intragáveis

Lembra-te de mim no júbilo, quando teu acordeão embalar as farras da noite
Lembra-te do seio que te abrigou, e tenha piedade de uma desgraçada que não se pertence mais
Lembra-te que tu me livrou do que havia em mim
Daquilo que não é meu
E que nem eu mais queria

Lembra-te de mim quando te jogares no chão para observar as manchas no espelho
Lembra-te que lá fora chovem alegrias rejeitadas morrendo afogadas no meu pranto que inunda todo bairro

Lembra-te de mim, e, por obséquio, sorria quando eu estiver deitada tentando decifrar o que foi escrito com teu tato sobre meus olhos

Lembra-te de mim quando anjos azuis pousarem em tua janela e os celestes lhe sorrirem

Lembra-te de mim quando a abóbada te sufocar e tu luzir

Lembra-te de minh’alma oca saindo… Saindo…

Meu corpo agarrando-a. Agarrando-se
Não podendo deixar-se
Lembra-te que quero estar contigo
Ser tu novamente
Lembra-te que não sei o que sou [mas o que era?]
Lembra-te que não sou nada e luto pela lacuna

Lembra-te de mim quando te enfiares no obscuro de ser só

Lembra-te de mim quando te encheres da ignorância de não ser ninguém

Lembra-te de mim para soltar-me
Lembra-te de mim, quando
No sofá da tua casa
Põe o rosto entre as mãos e chora
Lembra-te que de choro eu entendo
Lembra-te que chorei [todos os dias] que antecederam tua ida
E que o faço agora [todos os dias] por não estar aqui na tua volta
Lembra-te:

Ninguém te susterá de ti
[entretanto, calma].

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